terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Primeiro dia de aula

Por Lucas Sidnei Carniel (Letras Português e Espanhol/ UFFS)

Já se vão 15 anos desde que entrei numa sala de aula pela primeira vez. Foi em fevereiro de 1997 que senti pela primeira vez aquele cheiro de madeira – característico nas carteiras de escolas públicas - de giz e foi também a primeira vez, pelo menos desde que me lembro, que me vi rodeado por pessoas que não conhecia: crianças chorando, professoras ralhando com os alunos de séries mais avançadas.

E naquele turbilhão de coisas novas acontecendo, nem notei que minha mãe já havia me dado os conselhos – aqueles do tipo que se dão para crianças no primeiro dia de aula: não coloque o dedo no nariz, não brigue, não corra... - e ido embora. Apenas me dei conta que estava sem ela, quando a vi já de costas, próxima do portão de saída.

Enquanto meditava se chorava ou corria atrás dela – e para a liberdade da rua, a sineta bateu, as crianças se reuniram desordeiramente em fila indiana e eu me desesperei. Queria a todo custo sair de lá.

Com alguns exageros aqui e outros acolá (nossa, acabei de inventar uma citação agora!) foi mais ou menos assim meu primeiro dia de aula. Claro, não vou me aventurar a relatar minuciosamente como foi a experiência dentro da sala. Por que, pelo menos pra mim, o mais marcante foram esses primeiros contatos com a escola, lá fora, no pátio, antes de entrar na sala e, depois, alguns minutos antes de iniciar a aula.

Quase uma década e meia depois, voltei a sentir como é o primeiro dia de aula. Claro, dessa vez não tive vontade de chorar, nem de correr atrás de minha mãe (algumas atitudes não podem mais ser tomadas depois de certa idade). Dessa vez, meu papel não era o de aprender, mas o de ensinar, ou, pelo menos, tentar.

Os últimos minutos antes de iniciar a 1ª oficina do PIBID do curso de Letras, no Colégio Estadual Doze de Novembro, de Realeza, foram os mais angustiantes de minha vida – mais até do que no meu primeiro dia de aula. Via a sala encher de adolescentes – detalhe: nem quando tinha a idade deles sabia entendê-los. Mas (quem diria?), eles também estavam nervosos com aquela primeira oficina. Assim como eu e minha colega Débora, não sabiam o que esperar daquela “aula inaugural”.

O tema que coube a mim e Débora tratarmos com eles foi “meio ambiente”. Não esperávamos que o assunto provocasse qualquer sentimento nos nossos alunos – que ali cumpriam mais ou menos o papel de cobaia, afinal, parafraseando um famoso político, nunca antes na história do Colégio Doze, da Universidade Federal da Fronteira Sul, do curso de Letras e do Pibid de Letras havia acontecido uma oficina com acadêmicos – em geral, porque adolescente não se preocupa muito com questões ambientais. Ledo engano. Eles não apenas se preocupam, como também sabem da importância de evitar a degradação ambiental.

Com o tempo nós, os acadêmicos/professores e os alunos, já estávamos quase que em perfeita sintonia. Acredito que foi ali, naquela oficina, que despertou, definitivamente, meu gosto pela docência.

Depois vieram outras oficinas. Formei duplas com outros colegas. E descobri inúmeras aptidões dos nossos novos amigos. De cronista e poeta a escritor de contos eróticos.

Embora tenha muita vontade de continuar na docência e lecionar ainda muitas aulas. Aquele primeiro dia de oficina não me vai sair da lembrança.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Tendo em vista a importância do leitor no processo educacional, especialmente uma leitura de qualidade, reflexiva, o subprojeto PIBID/Realeza propõe formar um leitor que saiba buscar sentidos, atingir significações ; que trabalhe com vários tipos de texto, amplie seus horizontes de expectativas e diminua a assimetria existente entre ele e o texto. Pelo fato de a leitura caracterizar-se sobretudo como uma “comunicação diferida”, o passado presentifica-se no ato de ler, e o leitor deve buscar tal presentificação na diacronia para ler a sincronia.

Nesse processo de presentificação, e sempre visando reduzir a assimetria com o leitor, o texto deve ser tomado em suas múltiplas dimensões – lingüística; textual; interacional; discursiva; cognitivo-conceitual; e estética – de modo a fazer o aluno refletir sobre as materialidades significantes, sempre relacionando o texto ao seu contexto e às outras disciplinas com as quais ele dialoga. Um texto não é um objeto isolado no mundo: ele possui relações com outros textos produzidos por outros sujeitos em diferentes espaços e tempos. O professor atentará para isso no momento da relação entre a teoria e a prática, colocando o aluno em um lugar de diálogo com o material apresentado e as realidades que o constituem.

Os objetivos a serem atingidos são:

1. Objetivo geral:
Identificar as causas que contribuem para o baixo nível de criticidade e o decorrente processo de alienação cultural existente na educação básica para, com base neste conhecimento, enfrentar o problema, lançando mão de metodologias diferenciadas e eficazes e, ao mesmo tempo, contribuindo a formação docente dos licenciando do Curso de Letras Espanhol da UFFS/Realeza.

2. Objetivos Específicos:

§ Entender em que ponto a escola, como propulsora do conhecimento formal, contribui pouco, ou não contribui, para a formação de leitores mais críticos;

§ Incrementar a leitura no âmbito escolar;

§ Integrar a comunidade escolar mediante a multiplicidade de leituras afins, visando enriquecer o diálogo interdisciplinar e o aprendizado global;

§ Apresentar aos bolsistas abordagens que ampliem a noção de leitura, leitor e texto;

§ Contribuir para a aproximação entre teoria e prática na formação do futuro docente.

O projeto será estruturado em oito (08) módulos a serem desenvolvidos através de da realização de atividades de leitura e discussão de textos, grupos de estudos e oficinas, visando conciliar teoria e prática:

1. Teorias da leitura (Os vários enfoques dados à leitura. O ponto de vista da hermenêutica, estrutural e semiótica).

2. Texto, Leitor e Leitura (Os limites da leitura e a intervenção do leitor (O leitor. Horizontes de expectativas. Redução de assimetria cognitiva. Os pontos de vista do texto).

3. O intertexto (Conceitos de intertextualidade, polifonia e dialogismo. Aplicação a diferentes gêneros discursivos: referências implícitas e explícitas, observação de pontes de sentidos)

4. A leitura do texto literário (Ambigüidades. Vazios a serem preenchidos).

5. A leitura do texto jornalístico (A lateralidade informativa. A lateralidade ideológica. A imprensa periódica no Brasil. Artigo, noticia. e crônica).

6. A Leitura Fílmica (Leitura estrutural do Cinema. Identidade e Colonização Cultural. Cinema documental e ficção).

7. A Leitura do Texto Não-verbal (A pintura. A escultura. A fotografia. Semiótica dos textos plásticos. Símbolos. Ícones).

8. A leitura das letras da MPB (Hisctória, cultura e poesia em diálogos)
As atividades previstas para o desenvolvimento do Programa de Iniciação à Docência no âmbito do curso de Letras da UFFS serão integradas com aquelas relativas aos componentes curriculares relacionados à prática e estágios curriculares, bem como com as atividades de extensão e pesquisa desenvolvidas por professores e acadêmicos do Curso.

Participantes (2011):
Coordenador: Prof. Dr. Sérgio Roberto Massagli
Bolsistas: Patrícia dos Santos, Josiane T. Ribeiro de Souza, Alceni Elias Langner, L Lucas Sidnei Carniel, Débora Karina Aiala, Lucieli Dalcanalle
Supervisores: Valéria Barbiero Kohl
Colaboradores: Prof. Ms. Clóvis Alencar Butzge, Prof. Ms. Saulo Gomes Thimoteo